Em parceria com o Jornal Mira Online nos "Exploradores da Natureza", o CianMira começa em Setembro de 2018 a escrever, mensalmente, um artigo para o jornal, sobre variados temas. Este é o primeiro artigo que podem ver em http://miraonline.pt/cianmira-opiniao-sobre-producao-avicola-em-mira/.
A instalação de uma empresa de produção avícola em
Mira tem sido uma das grandes discussões no concelho nos últimos dias. Muitas
são as opiniões e sugestões que fazem defender o seu ponto de vista.
Como bióloga e geóloga responsável pelo CianMira –
Centro de Interpretação do Ambiente e da Natureza de Mira – mas principalmente
como cidadã ambientalmente consciente, sinto-me compelida a demonstrar o meu
desagrado pela iniciativa baseando-me em estudos publicados em artigos
científicos. Não quero ser demasiado extensa e pretendo ser clara nos factos
que apresento. Assim, eis algumas das consequências deste tipo de indústria.
- Poluição das
águas superficiais e lençol freático. Os nitratos e o fósforo produzidos
nos excrementos das aves são transportados para as águas subterrâneas e, em
épocas de chuva, pode afectar a água superficial como lagoas e valas,
especialmente nos solos arenosos e bem drenados. Estes nutrientes também
provocam a eutrofização de lagos e lagoas, provocando a morte da ictiofauna. As
bactérias E. coli e Salmonella dos excrementos podem
contaminar águas de consumo humano e animal, assim como as substâncias químicas
de antibióticos e larvicidas oriundas das dietas dos frangos. Uma vez que o
local onde será implementada a indústria é rasgado por um curso de água, este
foco de poluição será, especialmente, muito difícil de conter.
- Qualidade do
ar afectada por emissões de gases como a amónia, exalação de odores e produção
de pó na atmosfera. A amónia é um gás tóxico que afecta a saúde humana e
animal e que se forma devido aos excrementos das aves.
- Praga de
insectos e roedores devido à quantidade de alimento disponível através das
rações e excrementos, sendo os mais comuns a mosca doméstica e o escaravelho
que podem transmitir agentes patogénicos como Salmonella, Pasteurella, Staphilococcus e ovos de helmintes.
- A avicultura ficará localizada numa zona florestal aberta, importante para espécies vegetais rasteiras e pequenos arbustos que servem de alimento a variados animais. Esta zona é de excelência para a ocupação por coelho-bravo e roedores, presas de raposa, aves de rapina e cobras. A ocupação pela avicultura destruirá o habitat e tornar-se-á uma barreira para a deslocação das espécies na sua época de reprodução.
- Os maus odores
serão transportados para todo o concelho e perturbarão munícipes e turistas que
esperam que Mira seja um local de ar puro. O impacto visual de instalações com
estas dimensões no meio da natureza e no percurso que se realiza até às praias
é negativo.
Entendo que estas indústrias são importantes para a
economia e que apresentam sempre soluções para tais consequências, mas nem tudo
o que reluz é ouro e está provado, também, em artigos científicos, que é
necessário um controlo muito apertado para reduzir tais impactos e que para o
caso do odor, ainda não foram apresentadas soluções viáveis. É preciso fazer
uma lista de prós e contras e verificar se será um bom investimento para o
local. Num concelho que se quer destacar pela protecção da Natureza, turismo e
economia a ela associada, não creio que a instalação desta indústria seja a
melhor opção. Se Mira é natureza, não a vamos destruir e tomar decisões
contraditórias que descredibilizará o concelho nacional e internacionalmente. Sejamos
sensatos e coerentes!
Joana Lima
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